A Encarnação do Demônio



Por Michel Argento

È um dos melhores filmes brasileiros desse século, sem sombra de duvida, e merece um lugar de destaque ao lado de surpresas como Cidade de Deus, O Homem do Ano e Tropa de Elite.

O que o “grande publico” pode não saber, é que esse filme se trata da terceira parte de uma trilogia iniciada pó José Mojica Marins (o Zé do Caixão) no anos 60, com o filme A Meia-Noite Levarei sua Alma, no ano de 1964, e seguido por Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver, em 1967, já em plena ditadura militar. Nessa ultima parte, A Encarnação do Demônio, de 2007, Josefel Zanatas, nome verdadeiro do Zé do caixão (o Cofin Joe, como ficou conhecido nos EUA), é libertado após 40 anos de prisão devido aos crime cometidos no passado.

Longe de qualquer tipo de regeneração, Zé do Caixão, que durante o tempo em que esteve confinado cometeu mais de trinta assassinatos, volta para as ruas em busca da mulher que lhe dará o filho perfeito, pois como reza sua filosofia, apenas a continuidade de seu sangue importa. Essa busca mergulha São Paulo em um torvelhinho de sangue e sadismos desenfreado. O personagem, no decorrer do filme, é atormentado por suas vitimas antigas, que lhe aparecem nas horas mais impropias, deixando-o na duvida sobre sua própria lucidez.

Embora seja um bom filme, mas convém dizer que não é bom para todos os públicos, pois apesar da excelente direção, montagem e fotografia, com um impacto visual que remete aos clássicos de Dario Argento, que o torna uma obra de arte surreal, existem na obra cenas extremas que pode, e vão, chocar o publico mais frágil e acostumado com obras água-com-açucar de terror norte-americanos.

Uma das cenas, capaz de causar indignação ao publico despreparado, é aquela onde o militar interpretado por Jece Valadão, que morreu durante as filmagens, espanca a esposa armado com um cassetete, auxiliado por dois subordinados, por ele ter libertado Josefel Zanatas, provavelmente em um trabalho de advocacia dativa. A advogada, mais adiante no filme, protagoniza uma cena bizarra, onde o coveiro esfola sua cabeça, arrancando a pele e puxando-a sobre os olhos da vitima.

Três outras cenas são maravilhosamente horríveis e repulsivas, infringidas contras as pretendentes de Zé do Caixão: o auto-canibalismo, onde a mocinha come um pedaço da própria nádega, cortada de forma explicita; o mergulho em um barril de baratas vivas; e a antológica cena onde uma das mulheres emerge de dentro de uma carcaça de porto, onde estive presa.

Outras cenas são memoráveis, como a chuva de sangue sobre os amantes em um centro de macumba, e a descida de Zé do Caixão ao inferno. Dezenas de outras cenas extremas se desenrolam durante o filme, como corpos suspensos por ganchos, crucificações com closes de pregos atravessando mãos, dentre outras que vão revirar o estomago do publico mais fraco.

Tudo isso faz de a Encarnação do Demônio um grande filme, merecedor de um lugar na mesma prateleira que clássicos como Fome Animal, O Massacre da Serra Elétrica, entre outros, mas esses mesmos fatores o fazem ser ignorado e repudiado pelas massas, restando apenas para alguns poucos o reconhecimento de sua grandeza cinematográfica.

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